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Metamorfose através das favas - Cultivo e Secagem

 Mais uma postagem da Série Baunilha, esta especiaria que perfuma, traz a beleza e os segredos das orquídeas para nossa mesa.
  Na postagem Casulo perfumado falamos sobre a conquista dos espanhóis sobre o Império Asteca onde o Capitão Hernan Cortez aniquila uma das maiores civilizações de todo o mundo, porém, vimos que a baunilha foi o único dos tesouros que os espanhóis não conseguiram levar dos astecas. A planta foi levada para o continente europeu, crescia bonita e vistosa mas não dava frutos...
 O que ninguém sabia era que a Vanilla precisava de uma espécie de abelhas que só vivem na região nativa de origem da citada orquídea; são as abelhas do gênero Melipona, uma espécie que não têm ferrões ou os possuem atrofiados.


 Este gênero da família das orquídeas possuem uma delicadeza singular, compreendendo uma membrana que separa o órgão reprodutor masculino do feminino, dificultando a polinização natural, necessitando pois, deste tipo de inseto, pequenino e perspicaz, para que cumprissem de fato com a sua instintiva tarefa de polinizá-las a fim de que frutificassem.


 A conquista do Império Asteca teve início no ano de 1519 e finalizou-se em 1521, entretanto, foi somente em 1819 que a planta foi levada para Caiena por um capitão de um navio sob a forma de plântulas, isto é, o embrião vegetal desenvolvido e ainda encerrado na semente ou, a planta recém-nascida. Essas plântulas cresceram sadias e fortes mas não frutificaram, justamente pela inexistência do inseto polinizador, mas ninguém sabia disto! Imaginem a angústia!!!
 E isso durou pouco mais de vinte anos quando finalmente em 1837, em Liège, na Bélgica, um botânico chamado Morren conseguiu polinizar artificialmente a flor da Vanilla, no ano seguinte, um francês de nome Neumann obteve o mesmo êxito com a polinização artificial. Tentaram executar o mesmo processo na Ilha de La Rèunion, em Caiena, porém, sem o mesmo sucesso.
 No ano de 1841 um menino de 12 anos de idade, escravo de nome Edmon Albius descobriu sozinho a técnica de polinização manual. Sete anos depois o departamento ultramarino francês de Rèunion exportou para a França algumas favas e devido ao triunfo do cultivo dar certo foi também introduzido seu plantio em Madagascar, Comores e Santa Maria e em 1898, algumas toneladas de vagens foram produzidas pelas colônias francesas.


 A conquista da polinização artificial da Vanilla abriu longos caminhos aos produtores da França, algumas partes da Inglaterra e Bélgica. Atualmente o cultivo é largamente efetuado em regiões subtropicais como a Indonésia, Américas do Sul e Central, México e África do Sul. A ilha africana de Madagascar é a maior produtora mundial de baunilha e junto de Comores e Rèunion, respondem por praticamente 90% da produção, calculada em cerca de 12 mil toneladas por ano. Dá-lhe baunilha!!!
 No Brasil a baunilha vem sendo cultivada com êxito na região de Belmonte, a 777 quilômetros de Salvador.


 A baunilha tem uma longa história, envolvente e cheia de particularidades, não é um cultivo simples, não é suficiente plantar e polinizar manualmente as flores para colher as relíquias em forma de favas, o processo vai um pouco mais além...
 Ainda hoje seu cultivo é considerado difícil, são plantas que necessitam de luminosidade intensa, umidade constante e frequentes doses de fertilizantes. A rega deve ser mantida frequente o ano todo, por ser uma trepadeira necessita de muito espaço e uma boa estrutura para que possam crescer agarrando-se como o fazem naturalmente, no entanto, é necessário que se façam estruturas que possibilitem o manuseio das flores na hora da polinização.
 Uma das maiores dificuldades no seu cultivo se dá no momento da polinização, pois suas flores são de curta duração e alguns procedimentos de polinização manual têm de serem feitos em questão de horas.


 O processo continua... A planta cresce, dá flores e é polinizada no momento certo, finalmente frutifica! O árduo trabalho na obtenção das perfumadas e apreciadas favas de baunilha está só começando...
 ...As favas in natura, aquelas verdinhas que vemos nas diversas imagens espalhadas pela internet, não têm cheiro, o perfume ficou todo na flor! Eita plantinha custosa essa!
 Primeiro necessitam ficar amadurecendo muitos meses antes de serem colhidas e depois, para que se forme o primordial princípio ativo do aroma que conhecemos, uma substância química chamada vanilina, precisam ser submetidas por um longo e laborioso processo de cura, que na verdade, envolvem muitas manejos: necessitam de calor inicial, secagem ao sol, secagem na sombra, seleção e finalmente empacotamento!!!
 Uma maneira secular de obter-se a vanilina era a imersão das favas em água fervendo por 25 segundos, depois eram colocadas em tecidos para absorver a umidade e secadas ao sol. Eram então, enroladas em outro tecido e guardadas em uma caixa fechada à noite e espalhadas ao sol para a curagem todos os dias por, no mínimo, três semanas.
 A partir de hoje, podemos compreender os altos valores que nos disponibilizamos pagar pelas favas do ouro da culinária. Pasmem, um quilo de favas de boa procedência custa em média 500 dólares, um quilo de vanilina natural para fazer o extrato custa mais de 4000 dólares!
 E você, já comprou favas de baunilha? Já rendeu-se ao delicioso aroma e sabor vindo da verdadeira Vanilla?
 Espero que tenham apreciado. Continuem seguindo a Série Baunilha todas as sextas e se não leu os posts anteriores, clique nos links e fique por dentro da magnífica história desta valiosa especiaria, aliando culinária com cultura!  
  1. Ouro em favas
  2. Casulo perfumado - A origem da Baunilha
  3. Metamorfose através das favas - Cultivo e Secagem.
  4. Baunilha elitizada opondo-se às essências - Baunilha sintética. 
  5. Aquisição de flavor - Baunilha comercial.
  6. Pluralizando a eficácia - Uso e propriedades.
  7. Semeando sentimentos em uma folha em branco - Baunilha poética.
  8. Alquimia caseira - Receita de extrato e açúcar baunilhado. 

6 comentários:

  1. Estou adorando saber e aprender contigo sobre a baunilha que dá um sabor tão característico... Lindo fds! bjs, tudo de bom,chica

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  2. Como não se render a esse presente dos deuses?! Seu aroma inebriante,o sabor e a lindeza que são suas sementinhas vale ,sim,cada centavo pago por essa preciosidade. ...E,agora;sabendo de todo processo empenhado até chegarem aos mercados fica mais fácil de se entender e digerir seus altos preços. Obrigada,minha querida, por nos ensinar tantas coisas...
    Que seu final de semana seja muito perfumado e cheio de sabor junto à sua turminha,beijinhos, Katia.

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  3. Fiquei super feliz em saber que cá na Bélgica cultiva esta belezura. As minhas vinheram de Madagascar,super barato por lá.Adorei a aula de hoje,amo esta flor e este cheiro,obrigada por nos informar,lindo final de semana,beijinhos

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  4. Oi Juni,
    Desculpa o atraso na visita, e que estou com minha sogra doente, e esta uma correria aqui.
    Obrigada pela suas visitas tão carinhosas ao meu blog.
    E não sabia que a Bélgica estava cultivando esta maravilhosa planta,só digo que descobri e aprendi um pouco mas com você.
    Bjs é um bom fim de semana!

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  5. Uhn que perfume, menina uma verdadeira aula de botânica, rsrs. Estou adorando!
    Uma semana bem iluminada e com cheiro de baunilha.
    bjs

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  6. Caramba!
    Nunca imagine o trabalho que isso dá! Ao ler, fiquei imaginando quanto não custaria pela dificuldade do cultivo. E realmente, uma especiaria cara. Mas o cheirinho, hummmm.
    Super legal sua postagem.
    Abração e ótima semana.

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