Na culinária a baunilha é utilizada para aromatizar e dar sabor a cremes, sorvetes, caldas, pudins, açúcares e o que mais a ousadia do cozinheiro permitir...
A baunilha é mais comumente utilizada em forma de essências, no entanto, veremos nas próximas postagens que a essência não é verdadeiramente baunilha, e, é muito utilizada também em forma de extratos, açúcares aromatizados, pasta ou finalmente vagens, o que caracteriza ser a autêntica baunilha.
As vagens ou favas são escuras e finas e têm um forte e doce perfume, são flexíveis, porém, resistentes e dentro encontram-se as sementes, uma espécie de massa escura que guarda o máximo do sabor e aroma da baunilha.
A baunilha é tão fascinante e surpreendente quanto a origem de seu nome. A palavra baunilha deriva de vainilla, nome que os astecas deram a planta e este deriva de vaina, que vem do latim e tem o significado de "vagina"; a etimologia da palavra se deve pela estruturação da planta que precisa ser aberta e dividida para extrair as sementes.
A vanilla é o gênero que abrange as orquídeas de onde se obtém a baunilha, assim sendo, as favas são os frutos da orquídea do gênero, todavia, não são todas as orquídeas deste gênero que produzem a baunilha utilizada como especiaria na culinária. A propósito, orquídea vem da palavra grega orchis, que em tradução literal significa "testículos" e isso ocorre porque as raízes de algumas orquídeas lembram testículos e a similitude é tamanha que a família inteira das orquídeas foi nomeada a partir dessa observação.
Vanilloideae é uma das cinco subfamílias da família Orchidaceae e é de algumas espécies pertencentes ao gênero Vanilla que são extraídas as favas que produzem a baunilha. Existem algumas citações sobre este gênero na descoberta da América, mas ela já era utilizada desde os tempos antiquíssimos pelas civilizações Maia e Asteca, em especial pelos astecas mexicanos.
Durante a terrível conquista do México, o temido e odiado Capitão Hernan Cortez, conquistador espanhol e responsável pela aniquilação da maior e mais poderosa civilização do Novo Mundo, o Império Asteca, tomou conhecimento de que o imperador Montezuma tomava uma bebida chamada "chocolatl", servida em taças douradas com colheres de ouro ou de tartaruga; haviam rumores que ele também fazia uso da bebida antes de visitar suas esposas.
O paladar da bebida era evidenciado pela baunilha que os astecas chamavam de tlilxochitl, traduzindo é o mesmo que flor negra, fazendo referências ao fruto maduro. Sua fama afrodisíaca seguiu por diversos países; no início do século XVIII, na Europa, era natural aconselhar os jovens maridos a tomarem bebidas feitas com a baunilha, na Corte do rei Luiz XV o sabor do chocolate era ressaltado com o acréscimo da baunilha e do âmbar e diz-se que Madame Pompadour, amante de Napoleão, apreciava este hábito.
Os espanhóis derrotaram o Império Asteca e conquistaram seus patrimônios e riquezas, porém, a baunilha foi de fato um dos maiores tesouros que os espanhóis não levaram dos astecas, pois todas os esforços de cultivá-la na Espanha foram frustradas. A planta crescia bonita e vistosa, mas não dava frutos! Nas postagens seguintes da série sobre a baunilha, veremos o porquê desta teimosia em não frutificar fora de sua região de origem.
As espécies mais longas deste gênero atingem mais de 30 metros de comprimento! São terrestres ou humícolas, isto é, são capazes de se nutrirem de matéria prima em decomposição, apresentam-se com o hábito de crescerem verticalmente sendo assim trepadeiras, com estirpes adventícias que são raízes secundárias e independentes da raiz primária, a qual nascem nos caules ou nas folhas e apresentam flores relativamente grandes, vistosas mas, em quase todas as espécies, são de curta duração e produzidas em sucessão. Todas são escandentes, com exceção de uma espécie, isto é, emitem brotos para o alto e por conta deste tipo de crescimento necessitam de um suporte ou guia onde seu caule possa se agarrar, assim como o fazem na Natureza ao prenderem suas raízes nas árvores; quando suspensas, deixam seus ramos pendentes e assim florescem.
A baunilha, a meu ver, é uma das especiarias mais notáveis oferecidas pela extraordinária Natureza, para que possamos dar brilho, sabor e aroma a nossas receitas.
Relacionar o simples fato de cozinhar com Cultura, História e Conhecimento é o melhor tesouro que nós, cozinheiras apaixonadas por bons ingredientes e métodos especiais de elaborar nossas receitas podemos preservar e nutrir!
- Ouro em favas.
- Casulo perfumado - A origem da Baunilha.
- Metamorfose através das favas - Cultivo e Secagem.
- Baunilha elitizada opondo-se às essências - Baunilha sintética.
- Aquisição de flavor - Baunilha comercial.
- Pluralizando a eficácia - Uso e propriedades.
- Semeando sentimentos em uma folha em branco - Baunilha poética.
- Alquimia caseira - Receita de extrato e açúcar baunilhado.