Você já pensou pelo que vale a pena lutar?
Tenho pensado a respeito e ultimamente cheguei a conclusão de que estar aqui já é um motivo para lutar, porém, isso tem me soado muto raso, sem profundidade, sem uma raiz que me seja a razão de eu seguir, de eu levantar, querer trabalhar, sorrir, fazer a diferença.
Passamos trezentos e alguns dias - rsrsrs - esperando pelas festas de fim de ano, pelo ano novo que sempre será melhor, que sempre desejamos que seja diferente do ano velho.
Acho que algumas pessoas passam a vida inteira esperando um ano novo, esperando... Entende?
Eu já fiquei assim também, planejando e procurando ansiosamente por algo que na verdade já estava acontecendo e eu nem me dava conta!
Quantas vezes precisaremos perder algo para saber que precisávamos daquilo? Quantas pessoas terão de partir até que possamos dizer que amamos?
Por quê? Para quê sofrer se temos uns aos outros?
É esse o alicerce da vida, é por isso que vale a pena lutar!
Vale a pena por você e para você estar perto de quem ama, enxergar o quanto cada pessoa importa, dar valor a brisa da manhã no meio do caos da vida, sorrir ao encontrar uma joaninha pousada na janela...
Vivemos dentro de uma grande guerra. Lutamos contra nossas más tendências, ou pelo menos deveríamos, combatemos uns aos outros no ambiente de trabalho, somos rivais até na conversa entre amigos, travamos guerra na fila do supermercado, no estacionamento do shopping, na espera da consulta médica contra a secretaria.
O que nos move diante dessa guerra? A espera pelo fim de semana? A espera pelo feriado? Pelo Natal? Por quê? Não me sentirei mal nesses dias?
As coisas não se modificam no fim de semana nem no feriado... Ah mas no Natal é diferente, a atmosfera terrestre se modifica, os corações querem se reconciliar uns com os outros, as famílias irão se suportar, pelo menos numa noite.
Na Primeira Guerra Mundial 10 milhões de pessoas morreram, 20 milhões ficaram feridos e é de conhecimento geral que esse foi um dos acontecimentos mais marcantes na História da Humanidade produzindo efeitos significativos em todo o mundo. Utilização de armamentos pesados por terra e mar, armas químicas como o gás mostarda, transformou homens em verdadeiras aberrações sem formas, levando-os a mortes aterrorizantes por asfixia e rompimento dos vasos sanguíneos. Coisas que só uma guerra tem, impactos negativos que só a guerra pode trazer para a atmosfera terrestre.
Entretanto, com fatos e impactos tenebrosos que a primeira grande guerra proporcionou ao planeta e aos que nela guerreavam, houve um fato notável de gestos solidários e fraternos, incomuns e quase nulos em uma guerra.
Estou falando da Trégua de Natal, ocorrida na noite de Natal de 1914.
Sim, os combatentes comemoraram o Natal e se abraçaram em meio aos horrores da Guerra. Essa trégua se deu na cidade de Yprès, na Bélgica. O Império Alemão havia confrontado durante meses contra franceses e ingleses em Yprè, chegando ao final do ano, o inverno rigoroso fez com que os exércitos recuassem. As linhas inimigas eram muito próximas umas das outras, de tal forma que cada tropa conseguia ver seus inimigos alvejá-los caso saíssem de suas trincheiras. Porém, no dia do Natal de 1914, alguns soldados estavam mais descontraídos e festivos em suas trincheiras. Por um instante anularam a guerra e tentaram tapear o frio intenso.
Outros, de forma estranha e impensada, começaram a caminhar, desarmados, pela zona chamada de "terra de ninguém", ou seja, o espaço entre uma trincheira e outra. Caminhavam até a trincheira inimiga sem serem mortos ou se quer abordados, desejavam um "Feliz Natal", oferecendo bebida, comida e charutos. Existem diversos relatos de soldados rasos quanto de oficiais de alta patente sobre a trégua de Natal, que aleatoriamente surgiu deles, isto é, não foi uma sanção do alto comando de guerra de seus países. Veja um dos relatos:
“Às 8:30, eu vi quatro alemães desarmados deixarem a sua trincheira e se dirigirem para a nossa. Eu mandei dois dos meus homens se encontrarem com eles, também desarmados, com ordens para que eles não ultrapassassem a metade do caminho entre as trincheiras, que distavam então de 350 a 400 jardas nesse ponto. Eram três soldados rasos e um padioleiro e o porta-voz deles disse que queria desejar a nós um Feliz Natal e esperava que nós, tacitamente, mantivéssemos uma trégua. Ele disse que havia morado em Suffolk, onde tinha uma namorada e uma bicicleta a motor.” THEODORO, Reinaldo V. A Trégua de Natal. In: Clube SOMNIUM, 2004. p.4.
Esse descrição é do Capitão Sir Edward Husle, do exército real britânico. Mas, apesar da trégua ter ocorrido na Noite de Natal, logo após a data a guerra foi retomada como os oficiais envolvidos foram duramente punidos por seus superiores pela ação impensada.
Agora eu volto ao início do artigo: Pelo que vale a pena lutar?
Muitas vezes famílias se distanciam uns dos outros por tão pequenas atitudes, brigas e discussões por terem pensamentos e ideais diferentes. Será que vale a pena?
Arrastam mágoas e ressentimentos desnecessários que se perdem com o tempo mas o orgulho ferido não os deixa reconciliar, a falta de vontade e o pouco esforço não permitem com que se unam.
A Trégua de Natal intriga meus pensamentos e fico imaginando o que os moveu a desejarem Feliz Natal uns aos outros? Será a mesma movimentação nossa? Feliz o quê? Se uma guerra está acontecendo, se tenho que defender meus ideais e pensamentos a qualquer custo, se ofendo em nome de algo ou alguém não me é bom, se preciso alterar a voz para ser escutado não é compassivo de relevância, mas mesmo assim o faço.
Muitas vezes em nossa vida somos os soldados da guerra, que passam o ano lutando e matando, ofendendo e ferindo uns aos outros e no Natal deseja uma noite feliz, porém, tão logo tudo termina, a guerra continua.Dê uma trégua, um descanso e tente mudar, não o outro, mas a si mesmo e verá que a guerra não mais fará sentido e a trégua poderá se estender por anos até se diluir como nuvens de poeira no ar.
Reflita sobre o que realmente vale a pena lutar!