Tantas coisas têm acontecido por aqui que vocês não fazem ideia. Na realidade quem me segue no Instagram ou é inscrito no nosso canal no Youtube faz ideia de um pequeno terço de tudo que estamos vivendo, mas o que eu estou sentindo ninguém pode imaginar.
Aliás, querer que o outro encontre o que há dentro de você é egoísmo, falta de compaixão. Mas como assim? Estou sofrendo, é visível e todos sabem, por que diabos não cuidam das minhas feridas?
Há tempos tenho buscado minha essência, o verdadeiro sentido da vida, da minha vida.
É tão difícil escrever sobre tudo isso. É tão complexo que não consigo parar quieta na cadeira, uma inconstância toma conta de mim, pensamento vago, dificuldade em focar no que realmente quero fazer através desse artigo.
Vamos lá então!
Não é um artigo sobre quem eu sou ou o que eu quero, mas sobre onde estou e o que preciso.
Temos passado por muitas dificuldades desde que nos mudamos para o sítio. Mudamos nossa vida, meu marido deixou de trabalhar com construção civil e passou a trabalhar na roça, viveríamos com a renda do café e tínhamos muitos projetos pra essa terra que nos acolhe e acarinha nossas almas sempre que precisamos. De repente a geada queimou todo nosso café, contei sobre isso aqui nesse vídeo.
Do dia pra noite deixamos de ter nossa renda, nosso único sustento, a forma como pagaríamos nossas contas e viveríamos. Tivemos que nos reinventar, digo que foi a reinvenção da reinvenção.
No meio de tudo isso nosso meio de transporte era uma camionete. Confortável, de luxo, segura e que também fazia as vezes de carregar adubo, galões de água, engatar implementos e tantas outras coisas que um dia-a-dia na roça necessita. Abastecíamos em um só posto de combustível na cidade, o combustível estava com resíduos impróprios e nossa camionete fundiu o motor.
Enquanto isso esperávamos um custeio em uma agência cooperativa da região para plantarmos o milho, uma das saídas que encontramos para vivermos depois da geada. O custeio não saiu. Plantamos o milho com nossas reservas de dinheiro, ficamos devendo um pouco na agrícola e tivemos que vender nossa camionete com o motor fundido, pois não conseguimos dinheiro para consertar, já que havíamos plantado o milho e o custeio não saiu.
Lembro de ficar muito triste, mas não chorava. Sempre confiei que as coisas ficariam bem!
O carro que meu marido trabalhava quando morávamos em Sertãozinho é um Chery QQ. Parece uma joaninha de tão pequeno. Eu achava feio, mas hoje eu acho tão bonito! Ficamos com ele aqui na roça. Estava queimando óleo, tínhamos medo de parar.
Um dia estávamos vindo pra casa, nós quatro. Pegamos a pista e um guarda nos parou. Os documentos estavam atrasados, ele ia apreender o carro. Sabíamos que se isso acontecesse não teríamos dinheiro para tirar o carro do pátio. Uma estranha força me moveu naquele dia, desci do carro, fui falar com o policial, quase ajoelhei. Ele nos deixou vir embora, não fez nada.
Foi por Nossa Senhora.
Sei que isso não é certo, mas o que é certo e errado?
Trabalhar, lutar, acordar às 5:00 da manhã pra tirar o leite, engarrafar pra levar na cidade e vender por 2,00 o litro. Nossa vaca produzia seis litro por dia.
Quando o policial nos liberou lembro do seu olhar, do seu tom de voz, da sua energia. Pedi que Deus e Nossa Senhora o abençoasse e que tudo na sua vida desse certo! Rezo por ele sempre e agradeço por sua vida e por ele ter feito o que era certo mesmo sendo errado.
Viramos as costas, demos as mãos eu e meu marido e fomos caminhando até o carro parado no asfalto com nossos filhos lá nos esperando. Eu murmurei que estava cansada, meu marido pediu paciência e disse que daria tudo certo!
Chorei nesse dia!
Dentro de todas estas dificuldades eu sempre dizia que nada se comparava ao fato de termos saúde e estarmos bem, unidos e juntos.
Com todas essas coisas acontecendo eu estava fazendo algumas consultas médicas e exames de rotina. E de repente parece que o maior dos problemas aconteceu... Uma alteração em meus exames e a médica nos disse que eu teria de fazer uma cirurgia. Ela me deu três meses para realizar, acreditam?
Isso sim nos abateu, todos ficamos muito afetados e desanimados. Houve dias em que não tínhamos carro para ir ao médico, precisamos da ajuda dos nossos vizinhos e de Deus para nos fortalecer e não esmorecermos.
Sem carro, sem dinheiro e agora sem saúde.
Ficamos muito abatidos, foi quando há uma semana da cirurgia uma prima me procurou e se ofereceu para me consultar e refazermos os exames. Desmarquei a cirurgia e fui até Campinas consultar. Refiz os exames e tudo estava bem.
Nessa hora novamente senti Nossa Senhora nos cobrindo com seu manto de luz e bençãos.
Sim querido leitor, eu faria uma cirurgia desnecessária. A médica que sugeriu isso? Não quero saber dela, assim como não quero saber do dono do posto que vende combustível adulterado.
Algumas vezes é preciso saber virar a página e seguir sem olhar para trás. Aprendi isso desde que mudei pra cá e deixei coisas na casa em que morei por treze anos e quando fui buscar não pude pegar porque haviam quebrado ou simplesmente porque disseram não na cara dura.
Não viva do passado, não se iluda com o futuro, porém, realize o melhor que há em você no presente.
O tempo nunca para e a Terra nunca deixa de girar.
A estar resignada na adversidade, não reclamar de coisas simples e a ter confiança no Pai que cuida e zela por nós, mesmo quando pensamos estar abandonados e sem caminho nenhum para seguir. Aprendi que há muita calmaria no caos e que mesmo com a alma de "pernas pro ar", os benfeitores te acariciam e te carregam no colo, velam por ti e choram das tuas lágrimas sinceras. Aprendi que mesmo na mais cruel realidade se você está com quem ama não há nada mais importante e que são nos piores momentos que você descobre quem realmente se importa.
Aprendi que tudo passa...