Sempre gostei muito de plantas, desde bem pequena eu amava ficar vendo minha mãe podar as samambaias e quando íamos na casa da minha avó materna lembro que no caminho até a casa dela passávamos em um bairro em que as casas não tinham muros ou portões, os jardins eram na rua mesmo e eu achava aquilo demais!
Minha avó morava em uma casa simples no centro da cidade... Era uma daquelas casas antigas, portão baixo, um alpendre de ladrilho hidráulico no chão e um jardim simples, bem simples com uma árvore de jasmim café, uma roseira trepadeira branca e junto dela aquela planta conhecida como lágrima de Nossa Senhora - nunca mais encontrei essa planta, como era delicioso brincar com aquelas miçangas naturais, - um pé de café - ah eu amava comer aquelas bolotas vermelhas - e no fundo da casa duas mangueiras, motivo de muita discussão com os vizinhos por causa das folhas que caíam no quintal deles! Ô gente de mente crua e pequena! Mas não vamos falar disso hoje, é preciso manter o foco.
Ia colhendo algumas flores e quando chegávamos na minha avó o portão estava sempre aberto, mas a porta da sala trancada. Eu batia na porta, aquelas antigas de vidro, minha avó abria e eu sempre estava com a mão para trás escondendo as flores, quando mostrava ela fazia uma expressão de surpresa, sempre e sempre... Hoje tenho consciência de que ela já sabia que eu estava com as flores, mas naquele momento e por muito tempo durante minha infância acreditei que ela se surpreendia sempre que eu chegava.
Minha avó me convidava para colocar as flores em um copo com água e juntas levávamos até o seu quarto onde ela tinha um pequeno altar em cima de um aparador antigo com as imagens de vários santos. Tinha Santa Luzia, Santo Antônio, São João, Santa Edwiges, Nossa Senhora...
Não importava o dia, ali haveria uma vela votiva acesa. Nós colocávamos as flores e ela me deixava ali, lembro-me de rezar intercalando o olhar entre a chama da vela e a imagem de Nossa Senhora.
Demorei um tempo para conseguir honrar a ancestralidade proveniente de minha mãe. Não sei explicar, ou melhor, eu sei mas não me sinto confortável em expor... Quem sabe um dia!
O importante é que hoje honro minha avó materna, agradeço por sua existência e o tempo que convivi com ela, muito embora tenha perdido por muitos anos esse laço que hoje reencontrei e alegro-me em fazer parte da vida e do sangue daquela senhora simples, descendente de índios, com uma compreensão ímpar sobre a vida, sobre as plantas, sofrida e cheia, repleta de ensinamentos e sabedoria!
São momentos únicos e marcantes e como esse muitos outros se sucederam e se sucederão em minha existência aqui na Terra. Com o tempo senti a vontade de eternizar além da minha consciência e memória esses instantes tão especiais.
Quando conheci meu marido e começamos a namorar nós estudávamos juntos. No seu caminho para a escola ele roubava, no bom sentido da palavra, se é que há, rosas de um jardim para levar pra mim. Hoje eu tenho essa roseira aqui no jardim de casa, sabe aquela rosa cor-de-rosa, de casa de vó? Então, era essa. Ganhei uma muda de uma senhora muito especial.
Na época eu guardava algumas pétalas no meio dos livros que lia. Com o tempo aprendi que poderia eternizar aquela rosa desidratando suas pétalas de uma forma bem simples e poderia utilizá-la em arranjos de flores secas... Assim, toda vez que olhasse para aquele arranjo lembraria do momento em que ganhei aquela linda flor.
O que acha de aprender a secar suas flores, montar lindos arranjos e eternizar aquele momento especial?
Beijos e até a próxima!