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Tantas vidas...

Por alguns anos da minha vida eu sufoquei um sentimento, enterrei uma vontade que pulsava no meu coração. A vida é assim, algumas coisas não cabem em dados momentos da nossa existência.


Eu me afoguei entre sonhos e desejos, guardei em uma caixa bem no fundo da minha alma um amor e uma vontade antes inexplicáveis.
Para alguns ficar fora do fogo é muito mais seguro, pra mim nunca foi bom. Se eu tenho um desejo eu busco, se eu tenho um medo eu tento vencer.
Lembro quando fomos viajar a primeira vez de avião. Eu tenho muito, muito medo de altura, mesmo que não a esteja vendo. Foi uma sensação aterrorizante, doze horas dentro de um avião e pavor, embora eu tenha me controlado o tempo todo estava em frangalhos e eu só pensava que teria de voltar mais doze horas quando fosse o momento de vir pra casa.
Um ano depois decidi encarar esse pavor.
Fomos viajar novamente e eu decidi ir na janela, coisa de criança né? Nem sempre... Sentei na janela, o voo era de manhã, olhei o avião fazendo todo seu percurso, decolou e tudo ia ficando pequenininho. Eu sempre falo que nunca senti nada parecido em toda minha vida, uma energia que corria dos pés até os fios de cabelo, ia e voltava. Face a face com o medo, o pavor daquela altura medonha, Jesus Cristo, eu queria fechar os olhos, a janela, gritar, sei lá. Mas fiquei ali, enfrentei aquele maldito medo!
Olhei e olho de novo e de novo...


E dessa mesma forma eu tento vencer meu trauma com os cavalos.
Ter feito regressão me ajudou a compreender o que existe por trás de tanto medo quando estou montada em um cavalo, ajudou para que eu pudesse liberar a culpa que carregava do dia em que caí da minha égua e quebrei o braço. Eu pensava que tanta gente cai, se quebra todo e nem por isso transforma em trauma a queda. Alimentava uma culpa  porque desmerecia o que havia vivido, menosprezava aquele acontecimento, não era para tanto, pensava eu.
Realmente, não era. Pelo menos nessa vida não...



Mas não escrevo essa postagem pra contar sobre o passado e sim pra falar o quanto me sinto feliz com o presente, o quanto Deus é maravilhoso o tempo todo em nossas vidas e tenho sentido isso mais do que em qualquer tempo da minha existência.
Sou muito grata a Deus por tudo que tenho vivido e por todas as conquistas que tive ao longo do tempo.


Minha experiência com o Xodó foi o começo de um caminho lindo. Xodó abriu as portas que eu havia fechado há vinte e três anos, ele me mostrou o caminho que eu e o Comendador percorreríamos.


Engraçado porque o Comendador foi comprado para o meu marido e quando fiz a regressão a terapeuta disse que ele era o meu cavalo, eu contestei, falei que meu cavalo era o Arteiro e ela disse: - Não, seu cavalo é o Comendador, ele veio pra você!
Eu pensava que seria impossível superar meu trauma no Comendador um cavalo alto, enorme, dois metros de altura!
Mas sim, ela está certa, é ele!
Lembro de quando já não montava mais no Xodó por conta da idade dele, o Arteiro ainda era bem xucro, não estava amansado, eu montava no Comendador, passava no trote pelo Xodó e gritava: - "Olha eu Xodó, olha eu!!!!" - ele levantava a cabeça e ficava nos olhando.
Tenho lágrimas nos olhos... Lágrimas de gratidão.


Não é fácil superar um trauma, não é fácil acessar o livro da sua alma, as impressões de medo, perdas, quedas e tantas outras coisas que foram vividas ao longo da sua existência, mas é libertador, transformador, traz a cura para tudo que te paralisava.
Hoje já consigo raciocinar em cima do cavalo.
Parece loucura, mas quando algo acontecia fora do que eu havia planejado como um simples balançar de cabeça do animal ou um passo pra trás travava meu cérebro, eu não pensava, não via nada além da queda.
Quando caí do Rabisco, o pônei - pode rir, eu deixo! - meu marido viu o que era meu medo, meu trauma. O pônei não fez nada além de galopear, eu travei, soltei a rédea e cai. Não vi nada além do dia em que cai da égua, voltei vinte e três anos atrás e revivi tudo, aliás revivi quedas que nem eu sabia que eram reais, o porquê de tudo aquilo, o que eram aquelas cenas aleatórias que eu via em minha mente. Achava que eram fruto do medo!
Hoje consigo entender. A regressão me ajudou.


A evolução que estou tendo é maravilhosa.
Sou grata a Deus por colocar pessoas maravilhosas no meu caminho como minha professora de equitação Iasmin que tantas vezes me puxou no Diamante pela arena, o Vanildo que me auxiliou no dia em que desci do Arteiro cheia de horror por ele só andar pra trás - risos!!! - e me amparou quando sentei no chão e chorei, o Jackson que sempre me dá forças e diz que sou capaz, que eu posso, trabalhou no Comendador para que eu pudesse voltar a montar e especialmente o meu marido, meu amor e companheiro que me puxou por mais de uma hora na arena enquanto estava montada no Comandador, abriu mão desse cavalo lindo e dócil que a princípio foi comprado pra ele montar, mas que por amor ele disse : - Vai, monta nesse "boca murcha", se é isso que te faz bem monta nele! - rsrsrs
Só eu sei o quanto ele ama montar no Comendador. Obrigada por ceder o "piliquito" pra eu montar, por abrir mão do cavalo que você gosta para que eu pudesse vencer meus medos, o trauma que carrego por tantas existências.
E está sendo lindo viver tudo isso.Desde o dia em que montei no rancho Vitória com o Luciano me puxando pelo cabresto naquela arena, uma hora e trá lá lá me puxando até eu me sentir segura em um cavalo de dois metros de altura, dizendo palavras de amor, de confiança, de segurança, eu evolui muito depois desse dia.


O Comendador me passa calma, tranquilidade. Depois da regressão consegui acessar uma energia com ele inexplicável, algo mágico.
É lindo conseguir selar, montar, cavalgar. Eu e o Comendador, um cavalo que faz parte da minha existência, que veio novamente na minha vida para continuarmos uma história de tanto tempo atrás.



Cavalgar sem as mãos, confiando no meu companheiro é a maior prova de que tudo valeu a pena e de que eu faria exatamente tudo de novo, igualzinho.
Olho pela janela com o avião decolando quantas vezes forem necessárias assim como venço esse trauma quantas vezes forem preciso.


Eu encaro o medo, eu coloco o amor acima dele.
O amor por cavalos é imensamente maior do que todo esse trauma, é infinitamente maior que todas as vidas em que cai.


O que me importa é o hoje e hoje Deus permitiu que eu estivesse com o Comendador para que juntos pudéssemos vencer, eu e ele, memórias de outras existências.
Obrigada meu Deus!



Beijos de luz e esperança.

Clicando aqui você vai para a postagem em que conto sobre o dia que cai da minha égua.


  

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