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Em casa

Dias bons, dias difíceis... Dias curtos, outros longos demais.

Dias com lágrimas outros com sorrisos e a maioria deles com muito suor...

Assim fomos passando desde que nos mudamos para Monte Santo. 

Se você, leitor amigo, ainda não sabe, vou te contar...

Eu, meu marido e meus filhos nascemos em Sertãozinho, estado de São Paulo. Há cinco anos estamos amadurecendo a ideia, a vontade e o coração para nos mudarmos para um sítio que compramos na cidade de Monte Santo de Minas, estado de Minas Gerais. 

Clicando aqui você assiste os vídeos em que falo sobre todo o nosso processo de mudança, desde quando nos tornamos espíritas até chegarmos na ideia de comprar o sítio, como tivemos a vontade de mudar, enfim... Vale a pena assistir pra entender e conhecer nossa história.

No início do ano passado sabíamos que até o final daquele ano estaríamos morando no sítio. Foi um longo caminho e muitas, acredite, muitas coisas aconteceram nesse caminho... 

Como todos viveram e vivem ainda as dificuldades da pandemia de Covid-19, ainda tínhamos todas as dificuldades internas de nós mesmos, além das adversidades monetárias, limitações de tempo e dias para estarmos presentes na finalização da nossa casa, preocupações com os cafés... Foram dias muito difíceis, dias de fortalecimento da fé, da confiança em um poder superior acima de nós, que comanda e sabe de todas as nossas necessidades.

Acreditar no invisível, aprender a sentir o que é intocável, imaterial. 

Confesso que muitas vezes tive vontade de dormir e pedir para que me acordassem quando tudo tivesse passado. 


Mudar nunca é fácil, mesmo que seja para melhor. Veja bem, não é simples sair da sua zona de conforto e ainda que esteja sofrendo, vai achar que mudar é mais difícil.

A gente se acostuma com a dor, acostuma com qualquer coisa... E acha que tá tudo bem, mas não tá. Daí vem a vida, vem ela te mostrar que existe uma luz linda que brilha por entre as folhas densas dessa floresta escura que você atravessa. No início a luz sempre incomoda e pode até ferir os olhos que antes estavam acostumados com a escuridão. 


Depois você acaba se perguntando como pôde ficar tanto tempo no escuro, como conseguiu suportar tanta coisa por falta de vontade de mudar.
E de repente alguma coisa se despedaça dentro do coração, dos sentimentos e você não entende muito bem, não consegue compreender ao certo... Com o passar dos dias você enxerga que estava tudo trincado, mais cedo ou mais tarde acabaria quebrando e tudo bem. 

Tudo bem não entender, tudo bem não querer mais ser quem você era, não querer mais voltar para o lugar onde morou por longos anos, decidir sonhar em fazer a diferença em um mundo tão dolorido, acordar de fato e enxergar as coisas e as pessoas com os olhos do espírito.


Conhecer a si mesmo é o primeiro passo para mudar. 
Nós nos mudamos de cidade, de estado mas muito além disso, iniciamos a mudança da nossa forma de pensar, da forma de enxergar o mundo e todas as coisas a nossa volta e nunca mais conseguiremos ser como antes.
Talvez por isso tenha sido tão doloroso, talvez por isso ainda continue doendo...


E muitas coisas continuam quebrando dentro de nós, algumas já não fazem mais sentido algum e outras, que antes não tinha valor algum já são essenciais.


Nos mudamos em dezembro de 2020... 

Que dia aquele! Meu Deus do céu... Eu mal podia me olhar no espelho, chorava em cada canto da casa que morei por treze anos, a casa que sonhei ter desde os vinte quando me casei! Era como se estivesse deixando um pedaço de mim naquele lugar e estava mesmo!


 Nosso cachorro, o cachorro que se mudou comigo quando casei e saí da casa dos meus pais estava enterrado naquele jardim, a nêspera que plantei da semente, os jasmins que perfumavam nossas noites no banco de cimento... A lavanda que plantei no chão como vi quando viajamos para Gramado. Todas estas coisas estavam a flor da pele e era como se eu estivesse em pedaços e cada pedaço meu estava um pouco em cada canto, um pouco em cada pé de planta, em cada memória...


Quando carregamos o caminhão e viajamos até aqui eu vim sonhando acordada com uma vida melhor, não que a nossa fosse ruim, mas aquilo tudo já não cabia mais em mim, eu não era mais aquela Juliana, eu já não era mais a mesma fazia tempo e não havia me dado conta.

Recebi dezenas de mensagens dos amigos, da família, de inscritos do canal, seguidores do blog e uma delas me tocou profundamente.
 "Vá sem olhar pra trás..." 

Até hoje essa mensagem me arrepia... A mim e ao Luciano, quando mostrei a mensagem à ele.

E fomos! 

Fui... sem olhar para a nêspera, para o lugar onde o Lindolfo foi enterrado, sem olhar para tudo aquilo com pesar... Apenas fui. Vim e estou aqui, sentada na mesa da cozinha, olhando as árvores pela janela, o vento nas folhas, escutando o canto dos pássaros, esperando meu marido chegar da roça...


Escrevendo esse artigo comecei a chorar...
Não sei bem ao certo o porquê, mas reviver tudo aquilo, os dias antes da mudança, os sentimentos, o dia de carregar as coisas, isso tudo ainda me faz chorar... 
Eu não tenho saudades da casa que morei, não tenho saudades daquela vida, de sair e poder ir passear em lojas, shopping, jantar fora, comprar almoço por quilo, ter a padaria no quarteirão de trás, a farmácia há duas quadras...

Então, chego a conclusão de que choro por emoção e não saudades. Choro de emoção e satisfação por ter conseguido vir sem olhar pra trás. 
Entendam, não é descaso ou indiferença, nem ingratidão.
É mudar, de verdade, deixar o que foi de ontem no dia de ontem e viver intensamente o dia de hoje! Agradecer por tudo que tivemos lá, por tantas vezes que fomos felizes naquele chão, por todas as lágrimas que derramamos e que nos fizeram aprender tantas coisas.
Simples assim...

Nossos dias têm sido duros, muito trabalho, muito mesmo! 
Dores musculares, pele cansada do sol mas os corações em paz, felizes e unidos.
Sonhadores, utopia?


Não sei, talvez pra você que lê estas palavras seja, mas pra nós que planejamos, idealizamos tudo isso aqui, não é utopia, não é fantasia. É real, é doloroso, racha nossas mãos, faz calos, dói nossas colunas mas enche nossos corações daquele sentimento que tive a primeira vez que passei pela estrada que estava me trazendo pra conhecer o sítio e que eu falo nos vídeos: "Parecia que estava indo pra casa!"


E estava mesmo!



Estou, finalmente, em casa.



Beijos de luz!

Até a próxima.








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